PÁGINA INICIAL

domingo, maio 11, 2008

Caro leitor, se você está de passagem pelo blog já logo no início dessa semana, então te convido a ter um momentinho, que seja da sua escolha definir como. ;)
Pois bem, pela primeira vez passo um final de semana com possibilidade para acesso a esse meio de comunicação - internet - dentro da minha casa. Isso por questão de uma querida amiga ter deixado o computador portátil dela comigo. Da minha parte desde quando tivemos a possibilidade para o acesso a internet em nossa cidade minha decisão foi radical: internet só na gráfica e ponto final. Mas eis que ao estar tendo esse acesso à internet nesse final de semana e estar aqui, agora, criando essa publicação bem tranqüilinha, dentro da minha casa, chego à conclusão que: realmente, para a minha pessoa, minha decisão, radical, foi maravilhosa. Eis o fato: não faço idéia de quantos pedaços de bolo de chocolate já comi sentada na frente desse computador portátil. Com o friozinho que está fazendo então, o que já bebi de leite com café; também não faço idéia (detalhe: o leite que vem para minha casa é o que sai direto da vaca – imagine então a quantidade de gordura). Definitivamente: internet em casa to fora de ter.
Bem, mas já que estou tendo nesse momento (internet em casa), e em se tratando da parte lazer, virtual, meu gosto é mais por blog, que fique então duas mensagens para caso seja da sua livre vontade ficar por aqui um pouquinho lendo.
Primeira mensagem:
Então, caro leitor, para não deixar questões para trás ou mesmo ter deixado a impressão de ter fugido "de algo" deixo então alguma coisinha para satisfazer determinada curiosidade (:D).
A maior torcida de futebol do mundo é para o time do flamengo. Como fazendo parte dessa torcida imensa, não consegui como percebi em alguns conhecidos, flamenguistas, perder meu excelente astral do início da semana passada: continuei na alegria da VITÓRIA NO CAMPEONATO ESTADUAL. Como disse o botafoguense Murilo Valeriote: “você é a única flamenguista que ainda está sorrindo.” Bem, não vou entrar em muitos detalhes para não me estender muito nessa escrita. Mas fazendo uma análise da situação, tendo em vista que se a pessoa não for torcedor do flamengo é absolutamente contra, e tendo em vista uma alegria enorme provinda do Cabanha; é para pensar se esse Cabanha talvez não seja um ser de luz que o time do FLAMENGO ofereceu a oportunidade para o planeta conhecer. Talvez um alguém para colaborar aí nessa situação de pedido para paz mundial: já que ele proporcionou tamanha alegria...
Mas enfim, nessa parte finalizo só esperando que a quantidade de bolo de chocolate + leite com café ingerido por mim - com esse negócio de passar final de semana com internet em casa - não tenha me deixado por 'ca banha'.
*Imagem abaixo, que (sendo flamenguista) encontrei no computador portátil que ficou comigo da minha amiga (que é tricolor). Essa imagem comprova, de certa forma, a realidade de que existe apenas duas torcidas. Fácil entender a questão: entre essa turma tem: vascaíno, botafoguense (vestida com camisa do tricolor) e tricolores: unidos :O

***

Segunda mensagem:

Então, caro leitor, se você aprecia agregar conhecimentos, achei interessante o conteúdo dessa entrevista e deixo aqui para compartilhar.

"Em Israel a política escorre pelo seu quarto", diz o cineasta Amos Gitai.

Israel Punzano

Em Barcelona

O cineasta israelense Amos Gitai (nascido em Haifa em 1950), ao qual o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (Macba) dedica um ciclo, é um sobrevivente. Em seu caso não se trata de uma metáfora: ele mesmo participou da guerra de Yom Kipur. Seus filmes -"Zona Livre" (2005), "Terra Prometida" (2004) ou "Éden" (2001)- reivindicam a utopia e mostram a realidade da região-estopim que o viu nascer.

El País - O cinema como entretenimento o aborrece?

Amos Gitai - Todas as disciplinas da arte entretêm, mas é necessário algo mais. Não podemos ser só consumidores, mas devemos nos transformar em espectadores-intérpretes, como acontece quando nos colocamos diante de um quadro de Velázquez.

O cineasta Amos Gitai participa de sessão de fotos durante o Festival de Veneza de 2004
EP - Seus filmes têm uma grande carga biográfica. Não é de estranhar, porque está vivo por milagre...

Gitai - Isso de sobrevivente é verdade. Quando jovem, em 1973, participei da guerra de Yom Kipur. Em meu aniversário, num dia ensolarado de outubro, estava sobrevoando com um helicóptero a frente líbia em busca de feridos para transportá-los para o hospital. O helicóptero foi derrubado por um míssil. O co-piloto estava a menos de um metro de mim e morreu decapitado. Éramos sete tripulantes. A maioria ficou ferida e morreu depois. Eu consegui sobreviver. As forças aéreas israelenses telefonaram para minha mãe e lhe disseram com secura que seu filho era uma exceção à estatística: ninguém sobrevive a uma coisa assim. Como não sou místico, aquela afirmação me perturbou.

EP - Sente-se à vontade quando rotulam seus filmes como "cinema político"?

Gitai - Quando se vive em um país como Israel, mesmo que pretenda ignorá-la, a política escorre por baixo da porta do seu quarto. O arrasta, seja qual for seu estado. É a tragédia da região em que vivo. Quando o conflito diminui e as pessoas começam a sarar e a estabelecer novas relações sociais, ressurge a selvageria que as atrai para o redemoinho.

EP - Seu cinema é a outra face do que contam as notícias?

Gitai - Não aceito os discursos politicamente corretos. Vivemos em uma situação de conflito altamente intoxicado pelas imagens dos telejornais. Todos juntos, tanto israelenses como palestinos, aceitamos ser colaboracionistas com a intoxicação que se faz de nossa imagem. Caímos em uma armadilha e damos carniça para alimentar os telejornais universais da noite, que nos consideram uma novela digna de ser vista de vez em quando. Cada um de nós utiliza suas feridas para obter vantagens políticas, sem entender que somos todos perdedores.

EP - Não resta sequer a esperança?

Gitai - Ao refletir sobre isso, penso em minha mãe, que nasceu em Israel quando ainda era simplesmente palestina. Tinha raízes dos judeus da Rússia. Casou-se com meu futuro pai nos anos 1930 e passaram a lua-de-mel no Líbano. Quando eu era pequeno, as fronteiras já estavam fechadas e cruzá-las me parecia algo extremamente perigoso. Mas em cima da mesa na qual almoçávamos minha mãe sempre punha umas estranhas passagens de trem com o trajeto Haifa-Beirute, os da sua lua-de-mel. Parecia-me muito preocupante que algum dia tivesse havido essa possibilidade de viajar em paz. Com esse gesto, minha mãe queria nos dizer que se aquele trem havia existido no passado poderia voltar a existir. Em Israel não devemos perder a esperança.

EP - Como decide se uma história deve ser um filme de ficção ou um documentário?

Gitai - Por razões éticas. Quando rodei "Terra Prometida", fiz um acompanhamento do tráfico de mulheres do Leste Europeu para o Oriente Médio para exercer a prostituição. Quando se trata de explorar essas mulheres, não há problemas. Os mafiosos israelenses e palestinos se unem pelo bem do negócio. Nesse caso não quis utilizá-las para fazer um exorcismo de seu sofrimento e optei pela ficção. O documentário exige mais pudor que um filme de ficção, porque as pessoas que aparecem nele seguirão suas vidas quando o filme terminar.
(fonte uol)
***
Grata pela visita!
Paz e bem para a semana ;),
Sandra Valeriote

2 comentários:

Sandra Valeriote disse...

Conhecimento a mais não ocupa espaço ;)


A visão de um 'judeu dia e noite'
O sobrevivente do Holocausto, Tommy Lapid, sua esposa, a escritora Shulamit Lapid, e o filho deles, o jornalista e apresentador de televisão, Yair Lapid, falam sobre sua vida, seus sucessos e seus temores no dia a dia em Israel, que celebra o 60º aniversário de sua fundação na quinta-feira

Martin Doerry e Christoph Schult

Spiegel - Tommy, onde você estava em 14 de maio de 1948, quando David Ben-Gurion proclamou o Estado de Israel em Tel Aviv?

Tommy Lapid - Eu vivia na Iugoslávia, sob o regime de Tito. Quando eu soube da declaração da independência, eu fiquei muito feliz com o fato do meu povo finalmente ter um Estado próprio. Mas nem sonhava que eu me tornaria um israelense. Tito tinha selado hermeticamente a Iugoslávia. Mas então algo inesperado aconteceu. Tito tinha um amigo, o pintor e comunista Moshe Pijade. Eles estiveram na prisão juntos, e quando Tito se tornou presidente, Pijade disse para ele: nós somos amigos há 40 anos. Eu nunca pedi um favor a você. Mas agora eu lhe imploro: deixe meu povo partir. No meio da guerra israelense da independência, minha mãe e eu chegamos a Haifa em um navio. Era meu 17º aniversário. Nós ainda estávamos no porto quando me alistei no exército.

Spiegel - Shulamit, onde você estava em 14 de maio de 1948?

Shulamit Lapid - Na casa dos meus pais em Tel Aviv. Meus pais tinham um rádio, o que era bastante incomum na época. Todos os vizinhos se sentaram em nosso apartamento, escutando ansiosamente o rádio para saber o resultado da votação na ONU. Quando a maioria votou a favor do reconhecimento de Israel, eu fui tomada por um sentimento de redenção, como se o Messias estivesse chegando. Nós fomos para a rua e dançamos. Meus pais eram da Romênia. Eles vieram para a Palestina em 1934. Pessoas da Rússia, Polônia, Alemanha e Tchecoslováquia viviam em nosso prédio de apartamentos.

Spiegel - Mas você se sentia em casa na Palestina?

Lapid - Toda criança falava a língua de seus pais em casa, mas fora de casa nós só falávamos hebreu. Nós tínhamos vergonha das línguas de nossos pais, porque simbolizavam a Diáspora, o passado. Nós, por outro lado, éramos o futuro. Nós viemos ao mundo como "novos judeus". Há uma grande diferença entre aqueles que imigraram antes do Holocausto e aqueles que vieram após o Holocausto. Meus pais eram sionistas que imigraram por idealismo. Aqueles que vieram após o Holocausto estavam, em grande parte, buscando refúgio -como Tommy e sua mãe.

Tommy Lapid - Eu era originalmente de Novi Sad, que foi ocupada pela Hungria na Segunda Guerra Mundial e atualmente faz parte da Sérvia. Quando os alemães chegaram, minha mãe estava visitando sua irmã em Budapeste. Era a noite de 19 de março de 1944. Meu pai, meu avô e eu tínhamos ido para a cama, sem saber o que estava para acontecer. Às 5 horas da manhã, um homem da Gestapo tocou nossa campainha. Ele foi muito educado quando disse ao meu pai: "O senhor é o dr. Bela Lampel? Por favor, se vista e venha conosco". Eu não tinha idéia do que aquilo significava, mas meu pai entendeu muito bem. Ele me abraçou e me disse: "Meu filho, ou verei você de novo ou não". Eu nunca mais o vi.

Shulamit Lapid - Todavia, Tommy sempre diz que comparado aos judeus poloneses, ele sua situação foi relativamente fácil...

Tommy Lapid - ...porque minha mãe e eu não fomos enviados para um campo de concentração, Shula. Nós fomos levados ao gueto de Budapeste. Nós vivíamos em um porão. Do lado de fora, as pessoas estavam morrendo como moscas de fome e frio. Certa manhã, os nazistas húngaros nos forçaram a marchar pela neve. Nós sabíamos o que estava prestes a acontecer. Eles abririam buracos no gelo do Danúbio congelado, perfilariam os judeus diante deles e atirariam, para que caíssem pelos buracos na água. Nós já estávamos fora do gueto quando um avião soviético repentinamente passou de forma rasante sobre nossas cabeças. A multidão se dispersou e naquele momento minha mãe me arrastou até um sanitário. Nós esperamos até que o grupo fosse embora. Quando saímos nós estávamos no meio da neve no meio de Budapeste, com a Estrela de Davi amarela em nossos casacos. Pode soar absurdo, mas minha mãe conseguiu me levar de volta ao gueto, porque era de longe o lugar mais seguro para nós. Foi lá que fomos libertados pelos soviéticos pouco tempo depois.

Spiegel - Muitos sobreviventes do Holocausto se queixam de que ninguém queria ouvir suas histórias nos primeiros anos após a fundação de Israel. Quanto tempo levou para você contar para sua esposa a respeito?

Shulamit Lapid - Você não me contou nada. Eu nunca ouvi sua história até as crianças serem velhas o suficiente e então você contou para elas.

Tommy Lapid - De certa forma nós tínhamos vergonha do que tinha acontecido conosco. Nos primeiros anos, nós nos alimentávamos do mito dos heróicos sabres, como os judeus nascidos em Israel são chamados. Eles nos encaravam com desprezo, porque presumiam que teriam combatido os nazistas se estivessem no nosso lugar. Tolice.

Yair Lapid - Eu cresci com este mito. Era como uma chama entregue para mim, para manter a memória viva. Nós fomos juntos para Budapeste quando eu tinha 22 anos.

Tommy Lapid - Eu mostrei para ele o porão e o sanitário.

Yair Lapid - Nós dois choramos lá. Os húngaros passavam por nós se perguntando por que dois homens adultos estavam parados diante de um sanitário, chorando.

Spiegel - Você disse certa vez que perdeu Deus naquele porão no gueto de Budapeste.

Lapid - A Bíblia não é uma experiência religiosa para mim. Este livro reúne toda a cultura do judaísmo: nossa língua, nossa história, nossa geografia. Deus é apenas um subproduto da Bíblia.

Shulamit Lapid - Na Diáspora, os judeus basicamente estudavam o livro de leis conhecido como Talmud. Em Israel, eles retornaram à Bíblia. Mais recentemente, jovens israelenses seculares estão voltando às raízes do judaísmo, não por estarem se tornando religiosos no sentido mais rígido, mas porque buscam espiritualidade. Yair, você acabou de escrever um livro sobre a Bíblia. Por quê?

Yair Lapid - Porque papai não queria nada com a Bíblia.

Shulamit Lapid - É verdade que, de certa forma, você foi privado do judaísmo tradicional. Nós não rezamos e nem freqüentamos a sinagoga.

Yair Lapid - Eu tive que encontrar meu próprio caminho para o judaísmo, e comecei basicamente com uma folha de papel em branco. Eu me lembro de uma conversa na qual papai me perguntou: "Por que você acredita em Deus?" Eu disse: "Por razões políticas". Eu acredito em um Deus político. Nós não podemos esperar que o motivo de nossa existência se crie sozinho. Nós devemos desenvolver um alicerce para nós mesmos. Foi muito fácil para a geração dos meus pais, porque eles tiveram o Holocausto e a ameaça à existência de Israel. Minha geração precisa de novas raízes. A Bíblia é simplesmente a raiz.

Shulamit Lapid - Eu também me interesso nas tradições religiosas. Tem a ver com minha infância. Mas estes anseios permanecem não realizados, porque sou casada com um ateísta fanático. Mas tenho alguma simpatia pelo mundo dos judeus ortodoxos.

Yair Lapid - Os judeus ortodoxos ainda vivem como se estivessem na Idade Média. De forma interessante, eles correspondem a cerca de 8% da população israelense há décadas, apesar de terem até 10 filhos, ou mais. Isto sugere que deve haver muitos que voltam as costas à ortodoxia.

Tommy Lapid - Eles descobrem que há outras coisas além do Talmud, incluindo coisas muito belas com minissaias.

Spiegel - O escritor israelense A.B. Jehoshua arrumou uma briga com os judeus americanos há algum tempo quando disse que um judeu só pode ser completo se viver em Israel.

Tommy Lapid - É muito difícil ser um judeu não religioso fora de Israel. A sinagoga mantém os judeus juntos na Diáspora. Em Israel, você é judeu dia e noite. Nós nem mesmo pensamos a respeito, como um cidadão holandês não passa o dia todo pensando no fato de ser um cidadão holandês. É algo certo.

Yair Lapid - Os judeus ortodoxos freqüentemente perguntam a você: "Você é primeiro um israelense ou um judeu?" Eu não vejo diferença entre os dois. Afinal, eu também sou simultaneamente filho dos meus pais, marido da minha esposa e pai dos meus filhos. Ser um judeu e um israelense são coisas inseparáveis. Eu certa vez fui aos Estados Unidos, onde abri uma empresa. Mas só consegui agüentar por meio ano antes de voltar a Israel. Eu perdi muito dinheiro e a empresa, que atualmente vale US$ 40 milhões. Mas mesmo assim nunca lamentei por um segundo. Eu não poderia viver em nenhum outro lugar.

Spiegel - O escritor David Grossman pintou recentemente um quadro bastante sombrio de Israel. Ele disse que os valores que guiavam o país durante sua fundação se perderam.
Tommy Lapid - Israel é uma tremenda história de sucesso. Quando cheguei, havia 600 mil judeus vivendo aqui. Atualmente há perto de 6 milhões. Nós temos uma das maiores indústrias de alta tecnologia do mundo e um alto padrão de vida. Há apenas uma coisa que não conseguimos: tornar o país mais seguro para os judeus.

Spiegel - De fato, a situação parece estar piorando.
Tommy Lapid - É verdade. No passado, nós tínhamos um problema com os árabes, mas hoje é com todo o mundo islâmico. Vocês no Ocidente têm o mesmo problema, mas ainda não perceberam. Eu comparo este momento ao período antes da guerra, quando os judeus na Alemanha alertaram contra Hitler, e todos no mundo ocidental, com exceção de Winston Churchill, disseram que era um problema alemão. Atualmente nós israelenses estamos alertando contra os muçulmanos, e o mundo diz: é um problema israelense. O cientista político americano Samuel Huntington está certo em sua teoria de choque de civilizações. Infelizmente, nós em Israel estamos na linha de frente deste conflito.

Yair Lapid - Eu vejo isto de uma forma completamente diferente, e tem a ver com a primeira parte de nossa conversa. No banco de dados de nossas experiências, existe a possibilidade de que virá alguém e tomará nosso mundo, independente de quão estável pareça. Eu nunca experimentei algo assim, o que não me torna ingênuo ou incapaz de ver as coisas mais realisticamente. Israel está longe de enfrentar uma ameaça à sua existência. Nós estamos muito fortes, tanto econômica quanto militarmente, para isso. Se algo ameaça Israel, é esta forma de pensamento paranóide que nos faz pensar: "Oh, Deus, eles vão nos matar em dois segundos! O que devemos fazer?" Você trouxe isso consigo da Diáspora, papai -juntamente com seu sotaque horrível!

Tommy Lapid - Eu chamo isso de experiência!

Yair Lapid - Eu já sou velho o bastante para saber que a experiência é superestimada. Sua experiência é completamente irrelevante para nossa situação atual. Há uma diferença entre uma pequena comunidade ser conduzida para um parque e assassinada e todas estas comunidades unindo forças para assegurar que algo assim nunca mais aconteça de novo.

Tommy Lapid - Então é minha experiência do passado que torna sua vida relativamente segura hoje.

Yair Lapid - Talvez. É claro, eu também me preocupo com a disseminação do extremismo islâmico, e é claro que os palestinos querem destruir o Estado de Israel. É o que diz todo livro escolar na Faixa de Gaza. Mas ainda assim não significa que são capazes de nos destruir. E quando finalmente perceberem isso, eles escolherão a segunda melhor opção, que se chama paz.

Shulamit Lapid - Nós somos controlados por slogans. Em Israel, todo pai e toda mãe diz aos seus filhos: "Esta agora é a última guerra". Nós acreditamos nesses slogans e nos decepcionamos quando a vida não corresponde. Mas podemos ler nos livros de história que períodos históricos freqüentemente duram 100 ou 200 anos. Devido à nossa curta expectativa de vida, nós temos dificuldade de nos vermos como parte dessa história.

Tommy Lapid - É verdade que a história parece mais condensada do que realmente é. Todavia, eu não tenho nenhuma esperança de que os árabes recobrarão o juízo. Após a guerra da independência, havia aquele chefe da delegação americana na ONU, Warren Austin, que disse que os judeus e árabes deveriam resolver seu conflito "com um verdadeiro espírito cristão". Eu não sei se judeus podem se comportar como bons cristãos, mas os árabes muçulmanos certamente não.

Spiegel - O escritor judeu Leon de Winter prevê que Israel não mais existirá em 30 anos e que, em seu lugar, haverá uma grande Palestina com uma minoria judaica.
Tommy Lapid - Bem, eu também não sou tão pessimista. Nós reconhecemos os riscos, mas também devemos nos lembrar que em todas as guerras que Israel teve que travar desde sua fundação, morreram menos judeus do que em uma pequena cidade polonesa durante o Holocausto.

Yair Lapid - Onze cidadãos israelenses foram mortos nos ataques terroristas desde o início do ano. Mais pessoas morrem em acidentes de carro em Israel em um único fim de semana. Parece mais perigoso do que realmente é. Quando visitei Nova York pela primeira vez, amigos me alertaram para não ir ao Central Park, dizendo que eu seria assaltado lá. E então você entra no Central Park e não acontece nada. Em comparação a alguns países europeus, nós estamos nos saindo muito bem.

Spiegel - Shulamit, por que o conflito árabe-israelense não aparece em seus livros?
Shulamit Lapid - Por que é uma questão muito grande. Além disso, nós também temos outros problemas -com o ensino, por exemplo, com a economia. Nós temos mais pobres do que costumávamos.

Yair Lapid - O conflito árabe-israelense é o maior problema, mas pequenos problemas moldam nossas vidas cotidianas de israelenses. A menos que uma guerra esteja acontecendo, o conflito árabe-israelense é irrelevante no cotidiano.

Shulamit Lapid - Isto é típico de Tel Aviv. Em Sderot, que é atingida quase que diariamente por foguetes da Faixa de Gaza, eles vêem as coisas um pouco diferente. Eu sempre me solidarizei com a periferia. Beersheba, à beira do Deserto de Negev, está no centro de minhas histórias de detetive, enquanto uma repórter local desajeitada é a heroína.

Yair Lapid - A maior tragédia do conflito entre israelenses e palestinos e que todos sabem como vai acabar. Nós dividiremos a região. Israel devolverá grande parte da Cisjordânia e a bandeira palestina tremulará nos prédios públicos de Jerusalém Oriental. A única questão não respondida é quantas pessoas ainda terão que morrer até lá. E então lutaremos contra os extremistas de ambos os lados, incluindo nossos extremistas, os colonos. Quando você olha para a história das guerras, elas geralmente giram em torno de uma alegação: "Meu deus é melhor do que o seu".

Spiegel - A disputa divide a família de seus amigos, os Olmert. O primeiro-ministro Ehud Olmert, veio do movimento nacionalista Likud, de direita, e se deslocou para o centro político. Sua esposa Alisa e seus filhos estão alinhados com o movimento de paz israelense.
Yair Lapid - Uma divisão tão profunda não existe em nossa família.

Tommy Lapid - Além disso, a esquerda israelense está praticamente morta.

Shulamit Lapid - Isso não é verdade, Tommy. O centro político se tornou a esquerda.

Tommy Lapid - O movimento de paz foi destruído por seu maior sucesso, a retirada da Faixa de Gaza. Sharon fez o que o movimento de paz exigiu por anos. E o que obtivemos? O Hamas governa Gaza e o terror continua sem pausa.

Spiegel - Mas foi você e seu amigo Ehud Olmert que convenceram Sharon a sair de Gaza.
Tommy Lapid - É verdade. Nós queríamos sair de Gaza. Foi a ação certa. Ao mesmo tempo, foi uma espécie de teste que revelou as intenções dos palestinos. Uma retirada da Cisjordânia será muito difícil, por dois motivos: o que faremos se o Hamas também vencer as eleições lá, ou assumir o poder à força? E o que faremos com nossos colonos? Como evacuaremos dezenas de milhares de pessoas?

Spiegel - Yair, você se tornou um jornalista como seu pai. Você pode se imaginar seguindo os passos dele e ingressando na política?
Yair Lapid - Eu já pensei a respeito.

Tommy Lapid - Yair é modesto demais. Na verdade, dificilmente passa um mês sem que Ehud Barak, o presidente do Partido Trabalhista, lhe pergunte a respeito.

Shulamit Lapid - Eu não acho que Yair leva jeito para isso.

Tommy Lapid - É verdade. Ele é bondoso demais.

Spiegel - Tommy, você escreveu um guia de viagem há muitos anos. Onde você levaria atualmente os turistas que chegam pela primeira vez a Israel?
Tommy Lapid - Para Jerusalém, apesar de não gostar da cidade. Jerusalém é tradicional, tediosa e religiosa demais. Mas é uma cidade que não pode ser comparada a nenhuma outra cidade no mundo.

Shulamit Lapid - Eu os levaria para a casa de Yair. Lá eles conheceriam seus amigos, que levam uma vida completamente normal, feliz e descontraída -muito longe da imagem que as pessoas no exterior têm de Israel.

Yair Lapid - Eu os convidaria ao Genki. É um clube em Tel Aviv. Eles têm um palco onde os convidados cantam canções israelenses, e então todos cantam junto e dançam sobre as mesas. Na minha opinião, vitalidade é o que melhor caracteriza Israel.

Tommy Lapid - Não, se há uma palavra que caracteriza nós, judeus, é inteligência. Nós produzimos mais ganhadores do Nobel per capita do que qualquer outro povo no mundo. É a inteligência que nos distingue.

Shulamit Lapid - Então por que freqüentemente agimos de forma tão estúpida?

Tommy Lapid - É uma boa pergunta.

Spiegel - Tommy, Shulamit, Yair, obrigado por esta entrevista.

**
A FAMÍLIA LAPID
Tommy Lapid, 76 anos, é famoso em Israel por sua língua afiada. O ex-chefe da radiodifusão pública israelense liderou o Partido Shiniu, mais conhecido por lutar contra os privilégios concedidos aos judeus ortodoxos. Ele também serviu como ministro da Justiça israelense e vice-primeiro-ministro no governo de Ariel Sharon, quando apoiou a decisão da retirada da Faixa de Gaza.
Shulamit Lapid, 73 anos, é uma das autoras mais populares de Israel. Seus romances de mistério sobre a heroína desajeitada Lisi Badichi também são best sellers na Alemanha. Seu livro mais recente, "O Fim da Estação do Limão", foi publicado recentemente em hebraico.
Yair Lapid, 44 anos, é um dos rostos mais conhecidos na televisão israelense. Toda sexta-feira ele apresenta o noticiário mais importante da semana. Em seu tempo livre, ele escreve peças e thrillers.

Fonte: uol - 12/05/2008 (DER SPIEGEL)

Sandra Valeriote disse...

Mais sobre o assunto:

Palestinos exilados revelam o outro lado dos 60 anos de Israel
Dezenas de manifestações na Cisjordânia, Gaza, Síria, Jordânia e Líbano, para comemorar a Nakba (Catástrofe), a outra face do aniversário israelense

Juan Miguel Muñoz
Em Beirute

"Como vamos esquecer, se Israel nos lembra nossa história com suas matanças de cada dia?" Omar Suleiman Turk, 62 anos, nascido em Haifa e expulso para o Líbano em 1948 ainda bebê, junto com seus pais e uma irmã, faz um resumo superficial de sua vida miserável no campo de refugiados de Chatila, em Beirute: "Nunca conheci vários de meus irmãos maiores. Creio que um deles vive no Egito. Sei que outro morreu lutando com o exército jordaniano. Dos outros, não sei nada", comenta. Não é uma história excepcional. É fácil escutar narrativas dramáticas em qualquer dos países árabes que cercam Israel, onde na quinta-feira os palestinos comemoraram a Nakba, a "Catástrofe": o desterro maciço de mais de 700 mil pessoas de sua terra na antiga Palestina e depois no recém-fundado Estado de Israel.

Hoje são 4,5 milhões de refugiados que, divididos como sempre, saíram às ruas em dezenas de manifestações na Cisjordânia, Gaza, várias cidades da Síria, Jordânia e Líbano. Chaves que simbolizam as casas das quais foram expulsos, milhares de bolas pretas -uma para cada dia transcorrido desde 15 de maio de 1948-, sirenes e discursos moderados e incendiários salpicaram os atos em memória de sua tragédia, enquanto o presidente dos EUA, George W. Bush, falava no Parlamento israelense sobre o "terrorismo e a maldade".

"Passaram 60 anos. Já é hora de acabar com o desastre do povo palestino", declarou o presidente palestino, Mahmud Abbas, que negocia com o Executivo israelense um acordo de paz emperrado. Os dirigentes do Hamas seguem outro caminho. "Não reconhecemos Israel. Não reconhecemos Israel", insistiu Mahmud Zahar, um dos líderes islâmicos em Gaza.

Seis décadas depois, o 1,5 milhão de habitantes de Gaza -ocupada pelo Egito até 1967- vivem hoje o assédio brutal de Israel, condenado pela totalidade das organizações de direitos humanos. A Cisjordânia sofre uma ocupação militar que transformou suas cidades e povoados em cárceres submetidas a um regime militar. A radicalização das jovens gerações é palpável. "Eu sou da OLP", afirma Omar Suleiman, o refugiado de Chatila, "mas a maioria dos jovens segue o Hamas ou a Jihad Islâmica."

Se os campos de refugiados palestinos da Cisjordânia e de Gaza são miseráveis, os do Líbano são autênticos "lixões". Chatila, cenário da chacina (por Israel) em setembro de 1982 que horrorizou o mundo, é um espanto. Ain el Helwe, vizinha a Sidon, cidade no sul do Líbano, também é um lugar repugnante. Provavelmente são os refugiados palestinos neste país que mais sofrem. Eles não têm o direito de exercer 73 profissões e, como acontece nos demais países árabes, também não adquirem a cidadania do país de acolhimento. Muitos deles por vontade própria, para resistir à tentação da assimilação.

Alguns milhares, fugidos depois da guerra de junho de 1967, nem sequer podem abandonar os campos porque não têm documentação. Dificilmente pode surgir moderação em semelhante ambiente: um amontoado de barracos fétidos, edifícios separados por ruas de um metro de largura e um desemprego assustador.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Fonte: uol - 16/5/2008